Reencontros
Enquanto Nahuel respondia às curiosidades de Jake sobre os índios brasileiros, sua cultura e lendas, eu divagava sobre como convenceríamos Nahuel a contatar Johan e fazê-lo nos encontrar na Itália. Duas tarefas um tanto impossíveis. Nahuel parecia odiar aquele "pai" dele, não podia nem ouvir falar seu nome. E por que Johan aceitaria ir até a Itália, o covil de seus inimigos? Para ser morto? Eu mesma não iria.
Enquanto pensava estas coisas, papai me olhou e levantou as sobrancelhas. Entendi que ele compartilhava minhas indagações e opinião a respeito daquilo tudo.
No caminho, Charlie ligou para o celular de mamãe para saber se já estávamos chegando. Estava ansioso com nossa visita e, mesmo sabendo da nossa dieta "diferenciada", avisou que Sue preparara um jantar caprichado para nos recepcionar. Tadinho do vovô! Não conseguia se acostumar com a ideia de ter uma família de vampiros.
Não demorou muito e estávamos em Forks. Papai e mamãe apontavam alguns lugares e recordavam a época em que viviam ali. A escola, a loja de material esportivo, a lanchonete, a delegacia... Cismaram que, pela manhã, antes de sairmos, teriam que visitar uma tal clareira. E se entreolharam apaixonadamente quando mencionaram o lugar. Seja lá onde fosse isso, eu acho que não iam querer companhia. Certamente era um lugar especial, o qual gostariam de rever sozinhos. Esses dois tinham tantas histórias que daria pra escrever um livro. Ou quatro? Bem, parece que eu e o Jake estávamos indo pelo mesmo caminho.
_ Chegamos crianças! _ disse mamãe.
Vovô e Sue mal ouviram o som do carro e correram para fora, a fim de nos recepcionar. Seth estava junto e se apressou em abraçar Jake e papai.
_ E aí rapaz? Daqui a pouco você está maior que o Jacob, hem? _ comentou papai, se referindo não apenas aos mais de 1,90 que Seth estava medindo, mas também à massa muscular que aquele menino havia adquirido. _ Já te disseram que "anabolizantes" fazem mal à saúde? _ brincou.
_ Coisa de lobo... Sabe como é. _ respondeu Seth, sorrindo.
_ Mas ele ainda tem que comer muita proteína pra me alcançar! _ gabou-se Jake, pondo-se ao lado de Seth e exibindo com a mão sua estatura um pouco maior.
_ E aí? Fizeram boa viagem? _ perguntou vovô, já abraçando mamãe e me puxando, logo em seguida para um abraço duplo. _ Vamos entrando!
_ Papai, deixe-me lhe apresentar Nahuel, um amigo do Brasil que está nos acompanhando na viagem. _ disse mamãe.
Vovô se virou, mantendo mamãe de um lado e eu de outro, para olhar Nahuel.
_ Olá, Senhor Charlie! _ cumprimentou Nahuel, educadamente.
Sem responder ao cumprimento, vovô perguntou, desconfiado:
_ E ele é... como vocês?
Mamãe revirou os olhos, constrangida. E eu, compartilhando do mesmo sentimento, apenas abaixei a cabeça.
_ É sim, papai.
_ Não se preocupe, Charlie, ele é como nós. Não oferece perigo. Aliás, se oferecesse, não estaria aqui conosco. _ se apressou papai a responder as perguntas mentais de vovô.
_ Então, seja bem-vindo, rapaz! Vamos entrar logo antes que eu congele aqui fora.
Ao entrarmos, logo identifiquei o forte cheiro de ave assada e de vários temperos misturados. Já sentira cheiro parecido em alguns restaurantes, mas aquele parecia ter algo a mais. Era muito melhor!
_ Nossa, que cheiro maravilhoso da comida da Sue! _ disse Jake, farejando o ar.
_ Preparei um belo peru recheado. Seth não via a hora de chegarem. Estava impaciente. _ entregou Sue.
_ Tive que me controlar pra não atacar a comida que minha mãe fez. _ confessou Seth.
_ Faço côro com Seth! Eu também estava me segurando pra não invadir a cozinha. _ comentou vovô.
_ E o que estão esperando? A mesa já está posta. É só se servirem.
Mal Sue terminou a frase, Jake e Seth correram para a mesa, disputando corrida.
_ Ei, ei, ei... Dá pra esperar todo mundo sentar à mesa antes de devorarem tudo? _ repreendeu vovô. _ E então? Vamos comer?
_ Papai... _ mamãe olhou pro papai, meia sem saber como continuar. Alguém precisava lembrar ao vovô que não era bem aquele tipo de cardápio que eles apreciavam.
_ É que eles já jantaram no caminho, vovô. _ me intrometi, na tentativa de ajudá-los.
_ Como já jantaram? Eu avisei que Sue havia preparado um jantar especial.
_ Foi antes de você ligar. Lá em Seattle... _ tentou remendar mamãe.
_ Bella, pra que tanto rodeio? Realmente não deve ser fácil se acostumar com uma família de vampiros. Não é Charlie? _ papai, mais uma vez, surgia salvando a "pátria". A verdade sempre é o melhor caminho. E continuou, de uma forma educada, direta e objetiva:
_ Nossa dieta é diferente, não comemos comida... assim..._ disse, apontando para a mesa _ Nossa dieta é diferente _ repetiu mamãe "no automático" e nitidamente constrangida. Parecia não se sentir à vontade em se mostrar como realmente era. Preferia manter a fantasia de vovô, que insistia em acreditar na ilusão de que éramos uma família "normal", como qualquer outra.
Vovô franziu a testa e balançou a cabeça, caindo na real diante das palavras de papai.
_ Obrigado, Edward. Foi mesmo uma falha da minha parte. Eu realmente esqueci desse... detalhe sobre vocês.
_ Mas nem Bella e nem Nessie mentiram sobre já termos nos alimentado.
_ Me poupem dos detalhes.
_ Ah, papai, não precisa ficar assim. Vá comer. Sei que deve estar faminto.
Vovô havia ficado visivelmente embaraçado com a situação e, apenas apertando os lábios e levantando as sobrancelhas, concordou com a ideia de tomar seu lugar à mesa.
_ Bem, então, vou para a copa.
_ Espere por mim vovô. Não perco este jantar por nada.
_ Mas você também não...
Entendendo o que ele queria saber, me adiantei na resposta:
_ Não. Sou diferente deles, vovô. Sou meia humana, esqueceu? E este meu lado adora a comida da Sue. Vamos lá saborear este Peru recheado?
_ Agora mesmo! _ disse, com um enorme sorriso no rosto. Foi ótimo poder lhe dar esta alegria.
Enquanto nos deliciávamos com o banquete preparado por Sue. Papai e mamãe engatavam uma conversa sobre Forks e seus pontos turísticos. Que, alías, não eram muitos. Como fui a primeira a terminar minha janta - e já que o restante da turma parecia não querer mais sair da mesa - convidei Nahuel para conversar do lado de fora da casa. Era a minha chance de tentar convencê-lo sobre Johan. Papai, entendendo minha intenção, chamou mamãe para dar uma olhada num "certo quarto".