Caminhamos em direção a Seattle pela Olympic National Forest. Eu mais à frente e ele sempre atrás. No meio do caminho parei para caçar. Dois cervos foram suficientes para me satisfazer. Jacob não se alimentou, ficou apenas me observando na caçada. Talvez não estivesse com fome. Seguimos viagem. Aquela situação já estava me incomodando. Não me agradava estar brigada com Jake, mesmo sabendo que a culpa era dele e que ele deveria me pedir desculpas. Parei faltando um quilômetro para sairmos da floresta e entrarmos em território habitado. A parte rural de Seattle é bem pantanosa. Ficamos fazendo hora em uma pequena cabana abandonada na região de Kingston. Dali, pegaríamos a balsa das 18h até Edmonds e seguiríamos até Seattle de carro.
Enquanto esperávamos o cair da tarde, cada um em seu canto - Jake já em sua forma humana - resolvi acabar com aquela briguinha boba puxando conversa.
_ Não está com fome, Jake?
_ Um pouco.
_ Não quer comer algo antes de pegarmos a balsa.
_ Não, prefiro comer em Seattle mesmo. A gente pode dar uma parada numa lanchonete. Faz séculos que não como um hamburgão com batata frita.
_ Uma boa pedida.
_ Mas você já está bem alimentada. Dois alces não foram suficientes? Assim vai engordar.
_ Eu só disse que era uma boa pedida, Jake. Não disse que iria te acompanhar. E eu não engordo. Meu metabolismo não permite e você sabe disso
_ Tinha esquecido.
_ Esqueceu mesmo ou está querendo me provocar? Vamos parar com isso, Jake. Não acredito que ainda está chateado comigo. Hã? Está?
_ Mais ou menos.
_ Bem, eu não estou mais chateada com você. E olha que teria motivos de sobra.
_ Só porque falei "daquele lá"?
_ Não! Só porque você me ofende quando não confia em mim.
_ Eu confio em você, não confio é nele.
_ Ah, Jake, que papinho besta, viu! Já ouviu falar que quando um não quer dois não brigam? Além do mais, Nahuel nunca deu motivos para você ter tanto ciúme. Que ideia mais sem fundamento.
_ Não sei, Nessie. Só sei que não gosto de como ele olha pra você e do tanto de mensagens que ele te envia por e-mail.
Cerrei os olhos em sua direção, não acreditando no que acabara de ouvir.
_ Você andou olhando meus e-mails, Jake?
_ Foi sem querer. O computador estava com o seu login e eu acessei os e-mails, pensando estar no meu. E lá estavam várias mensagens do seu amiguinho.
_ E, por acaso, entre as mensagens que você bisbilhotou havia alguma coisa demais?
_ Não, não havia! E eu não bisbilhotei nada.
_ Ah, bisbilhotou, sim. Quando você viu que não estava no seu login poderia muito bem ter trocado o usuário, não é?
_ Ah, vai querer brigar por isso agora?
_ Não! _ o meu "não", seguido por uma enorme "tromba" não combinaram. Jake se aproximou com aquela cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.
_ Vamos ficar bem?
_ É só você parar com essa bobeira.
_ Ok! Não vou mais encrencar com ele tá?
_ Promete?
_ Não preciso prometer, minha palavra basta.
_ Ah, Jake, promete!
_ Tá, prometo!
Sua cara de contrariado me fez pular em seu pescoço e tascar um beijo estalado. Ele me puxou para o seu colo, como num golpe de judô, deu um sorrisinho de canto de boca e disse:
_ Você sempre acaba conseguindo tudo o que quer com esse teu jeitinho, né?
_ Hummm... será que consigo um beijo também? Um daqueles caprichados?
_ Não sei se você está merecendo.
Enquanto ele fazia tipo, comecei a instigá-lo dando vários beijinhos em sua boca. Não demorou muito e ele já estava rendido, retribuindo meus beijos, cada vez com mais intensidade. E assim, entre beijos e carícias cada vez mais ousadas, as horas passaram com uma velocidade vampiresca. O despertador do meu celular, que eu havia programado para tocar às 17h30, tocou justamente quando eu e Jake havíamos avançado alguns passos na nossa intimidade. As mãos dele, desta vez, não conseguiram se conter e passearam pelo meu corpo como ele ainda não havia feito antes. Por pouco não chegamos às vias de fato. Era muito bom sentir o toque quente das enormes mãos de Jake. Teríamos continuado se o som alto do alarme não tivesse nos despertado daquela espécie de transe. Ainda assim, o clima estava tão intenso entre nós que ignoramos o barulho e teríamos continuado mais um pouco se logo em seguida ao alarme, o celular não tivesse tocado insistentemente.
_ Preciso atender, Jake, podem ser meus pais. _ me levantei correndo e peguei o celular.
_ Alô? Papai? Não, está tudo bem. É que o celular estava longe. Estou bem. Claro que tenho certeza, papai. Foi só um susto. Ele não foi pego, mas todos os outros foram devidamente destruídos. Os lobos deram uma lição neles. Mas onde vocês estão? Chegam daqui a duas horas? Eu e Jake estaremos no aeroporto. Carlisle ligou e tenho novidades. Conto tudo quando chegarem. Também te amo! Mamãe? Estou bem, sim. Te amo também. Até mais! _ desliguei o celular e percebi que Jake não estava na cabana. Onde se meteu esse lobo? Enquanto esperava, com a ajuda de um espelhinho, dei um retoque no visual. Eu estava totalmente descabelada. Minutos depois, Jake apareceu.
_ A gente tem que se segurar mais, Nessie. Pra mim é bem mais difícil, acredite! É melhor nem começar.
Desconfio que a saída de Jake tinha algo a ver com essa sua conversa de "pra mim é bem mais difícil". Percebi o volume sob a calça de moleton enquanto nos acariciávamos e já tinha lido algo a respeito sobre os meninos. Teria ele ido "aliviar" a tensão ou jogar uma água fria nela, como vez anteriormente? Mas eu não iria perguntar nada. Não queria deixá-lo numa situação embaraçosa.
_ É melhor a gente ir, senão perdemos a balsa.
_ E quem era no celular?
_ Era papai. Eles vão chegar às 20h mesmo. Então se você ainda quer dar uma parada pra comer, vamos nessa.
_ Vamos.
_ Ah, muito cuidado com o que você vai pensar perto do papai. Já te ensinei a técnica.
_ Nunca consegui aplicá-la.
_ Então procure não pensar em nada do que aconteceu aqui.
_ Vou tentar.